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"Depois de abrir o tampo, tocou ao de leve as teclas e percorreu-as com vários acordes rápidos. Parecia que indagava sobre alguma coisa ou o instrumento, ou então o seu próprio estado de espírito.
Depois, com as mãos estendidas sobre o teclado, mergulhou em reflexões e o silêncio na sala tornou-se ainda mais profundo.
A noite olhava pelas aberturas negras da janela; do jardim espreitavam com curiosidade os ramos cheios de folhas verdes alumiadas pela luz do candeeiro.
Os convidados, preparados pelo vago som das teclas que acabavam de ser dedilhadas e, em parte atingidos pelo sopro de uma estranha inspiração que pairava sobre o pálido rosto do cego, estavam à espera, imóveis e calados.
Entretanto, Piotr ainda guardava silêncio, lançando para cima os olhos cegos, como que escutando alguma coisa. Na sua alma, quais ondas revoltas, erguiam-se as mais variadas sensações. A vaga de uma incógnita estava a apanha-lo, como uma onda à beira-mar apanha um barco que havia muito tempo repousava pacificamente na areia... Na cara do cego transparecia um espanto, uma interrogação e, ainda, uma excitação especial que a percorria em sombras rápidas. Os seus olhos cegos pareciam profundos e escuros.
Por um instante pareceu que não encontrava na alma o que tentava ouvir com uma ávida atenção. Mas depois, embora com o mesmo ar espantado e como que desistindo de esperar o que nunca mais vinha, estremeceu, tangeu as teclas e, levado por mais uma vaga de sentimento, entregou-se todo aos acordes fluidos, sonoros e cantantes..."
in O músico cego, Vladímir Korolenko
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Kurt Vonnegut
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Uma noticia publicada especialmente para o Paulinho! :)
ahahahaah! :)
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Deixou-nos como último legado literário “Caim”, obra alvo de muita discussão e de opiniões divergentes! Li-o, talvez mesmo por todo o alarido que foi criado à volta do mesmo… Apesar de não ter sido para mim, uma obra brilhante, entristece-me saber que não haverá outra!
Não sou uma conhecedora profunda da obra de José Saramago! Para além deste último, apenas li “O evangelho segundo Jesus Cristo” e “Ensaio sobre a Cegueira”, estas sim, duas obras que muito prazer me deram ler.
A vida de Cristo vista pelos olhos de Saramago… O humor refinado e a crítica frontal com que retrata a vida de um homem de que sempre conhecemos como sagrado, mas que Saramago nos apresenta como homem desde os mais elevados valores até às mais básicas necessidades.
Quando uma cegueira generalizada cai sobre a uma cidade, quando o mundo individual do ser se altera drasticamente, quando a realidade que aprendemos durante anos não nos permite as mesmas acções, o ser humano mostra traços que de outra forma seriam para sempre escondidos pela vida quotidiana, os mais nobres e os mais hediondos.
Alegra-me o reconhecimento nacional e internacional que teve e que lhe foi garantido ainda em vida!
…e alegra-me também ter tido a oportunidade de lhe pedir assinatura numa obra sua que ficou para mim…
Admiro o homem, o que alcançou, o caminho que traçou, a sua frontalidade, o seu amor pela sua companheira Pilar, e o pouco que conheço da sua obra.
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O Ensaio sobre tudo e nada, sempre na vanguarda da inovação, apresenta mais uma invenção fantástica!!!
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