Ensaio sobre tudo e nada

...composições literárias breves, sobre diversos temas ou assuntos, geralmente em prosa, de carácter analítico, especulativo ou interpretativo... ou nada disto...

4.4.08

Viagem ao Apocalipse

ensaiado por Bri |

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Quando para breve está a estreia o novo filme de Francis Ford Coppola “Youth Without You”, “Uma Segunda Juventude” diz o título Português, tive a oportunidade de ver um dos seus mais conhecidos filmes “Apocalypse Now”, “Apocalipse Now” diz o título Português. ;)

Foi também muito oportuno ver o filme apenas agora uma vez que tinha, há umas semanas apenas, acabado de ler “O Coração das Trevas” de Joseph Conrad, a tal obra que o inspirou para o filme. Fresco na minha memória ainda… :)

Confesso que tive alguma dificuldade em ler o livro… Um livro que não terá mais do que umas cento e poucas páginas e que me demorou uns bons meses a terminar… Bom, nesses meses, a vida recheou-se de outras actividades que não deixavam grande tempo para a leitura mas, de qualquer das formas, o livro apenas me começou a prender a atenção depois de passar o seu meio. A escrita de Conrad é bastante densa, tão densa como a selva que ele descreve de onde pequenos olhos o observavam enquanto ele sobe o rio… Densa e poética penso que posso dizer isto… O marinheiro Marlow conta-nos, na primeira pessoa, a sua assustadora aventura a subir o rio Congo, em busca do enigmático Kurtz, um comerciante de marfim. O livro versa sobre o comércio de marfim, sobre a colonização, sobre os negros, sobre a condição humana, sobre a loucura e sobre o insano… Deixando-nos sempre do principio ao fim, e até para além do fim, uma vontade de conhecer e principalmente de perceber Kurtz… Aquela pessoa e aquela voz que Marlow imagina e que todos pareciam admirar e até amar mas que sucumbiu à loucura do poder desmedido sobre tudo e sobre todos…










Kurtz é um dos pontos comuns entre o Apocalipse Now e a sua fonte inspiradora O Coração das Trevas. No filme Kurtz representa de igual forma o homem capaz e promissor, profissional, sábio e eloquente que se perdeu na loucura da selva e de um mundo que se apresentava também ele completamente enlouquecido. Quanto a mim, tendo em conta o que a voz de Kurtz era um ponto fulcral da personagem Kurtz que me foi apresentada no livro, Marlon Brando foi o actor mais bem escolhido para o papel.
No lugar do comércio de marfim e da colonização temos a Guerra do Vietname… E que visão da Guerra do Vietname… Que visão do povo americano que ali combatia tão sem princípios… Tão vazios… Sem moral… Sem motivo… Sem rumo… Tão sem sanidade já… Também eles completamente enlouquecidos… Em moldes bem diferentes de Kurtz, que enlouquecer como ele é para alguém muito capaz, mas todos eles enlouquecidos…
Na primeira cena do filme ouvimos cantar o fim do mundo com a música dos Doors, e durante todo o filme vamos caminhando rio acima até ao Cambodja, de encontro a ele… Ao Apocalipse no meio da selva…

Uma loucura de filme a não perder… Um 10 ;)

4 ensaios:

Preguiça disse...

brigite,

a única coisa que não referiste e eu senti ao ler o livro e ver o filme é a atracção e o fascínio pelo desconhecido que ambos transmitem. (talvez mais o livro que o filme).

ainda bem que leste o livro, gostava de ter tido a experiência de o ler antes de ver o filme. Mas não deu.

Parece-me seguro que podes continuar a aceitar cegamente as sugestões de quem quer que te tenha sugerido este livro ... (não consegui :P)

Tiago Fragata disse...

Qualquer semelhança com a realidade iraquiana é pura coincidência...Sim, a visão do coppola sobre a guerra é sublime! Outro aspecto que achei notável foi o facto de o Coppola não ter usado a violência extrema como Stone usou no platoon. Coppola transmite o quão ridícula foi a guerra, comandada por coroneis que gritam por um megafone "Lance, dá-me a prancha de surf!". Já Stone demonstra a guerra como ela foi, dura e crua. Grandes filmes, com preferência pelo apocalipse pela originalidade e adaptação do argumento.
Qualquer semelhança com a realidade iraquiana é pura coincidência

Bri disse...

Pois claro que sim sr. Preguiça! Mas eu prefiro aceitar cegamente presentes em vez de sugestões! Pode ser que quem me deu ofereceu este se lembre de me oferecer outros não é?! :) :) [tb não consegui]

Sim... É mesmo uma das coisas mais bem conseguidas do filme! A forma como ele consegue ridicularizar a situação não deixando que ela perca a gravidade! Mostra-o com capitões a gritarem por megafones, com soldados a brincarem em barcos de rabo a mostra, com homens em histerismo a atacarem as meninas da playboy, etc etc etc

Helder disse...

Gostava de rever o filme pois já o vi há imenso tempo e acho que nao me resta lembrança nenhuma. Mas o filme de guerra que mais me marcou foi o "Thin Red Line" que recomendo vivamente.