Ensaio sobre tudo e nada

...composições literárias breves, sobre diversos temas ou assuntos, geralmente em prosa, de carácter analítico, especulativo ou interpretativo... ou nada disto...

26.4.10

Ler está na moda

ensaiado por Bri |

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O Ensaio sobre tudo e nada, sempre na vanguarda da inovação, apresenta mais uma invenção fantástica!!!
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23.4.10

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ensaiado por Bri |

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Life is what happens to you while you're busy making other plans."

John Lennon
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15.4.10

Os nus e os mortos [II]

ensaiado por Bri |

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Ontem, uns largos meses depois do começo, terminei o livro que me acompanhava nos últimos tempos: Os nus e os mortos, e do qual já falei aqui!

Norman Mailer tinha acabado a formação universitária em Engenharia Aeronautica quando participou na 2ª Guerra Mundial e aí, as vivências que teve, permitiram-lhe escrever este romance que lhe trouxe o reconhecimento mundial em 1948. Com apenas 25 anos!!

Norman Mailer, conseguiu transformar em livro a sua visão do que é a guerra e encontrou as palavras certas para, muitas vezes, provocar no próprio leitor as sensações e os pensamentos [ou em situações extremas a ausência destes] daquele grupo de soldados.

Quando, escrevi o primeiro post, estava a conhecer o pelotão de reconhecimento e o livro reservava-me ainda muitas surpresas.

Primeiro conhecemo-los com um todo, o pelotão de reconhecimento. A pouco e pouco, vamos conhecendo cada um deles em pormenor já que nos vão sendo apresentadas as suas vidas passadas isoladamente, de onde vem, que condição social, o ambiente familiar, o relacionamento social, a formação de cada um e assim encaramo-los como indivíduos que deixaram para trás uma outra vida e que acabam por se encontrar numa ilha japonesa perdida no meio do pacífico. Assim compreendemos melhor a sua maneira de ser, as suas acções e as suas motivações.

Tudo aqui, em Anapopei, é diferente o clima tropical, as chuvas fortes e pontuais, a humidade abafada que dificulta a respiração, a vegetação, ora selva tropical densa que não permite a passagem, ora alta erva kunai, ora montanhas a escalar, nada na natureza se assemelha ao ambiente que todos conheceram durante toda a vida passada.


Conhecemos as operações mais simples de montagem e desmontagem de tendas até às missões mais desgastantes. Assim como nos são transmitidas as reacções, os pensamentos e os sentimentos de cada um dos indivíduos. A falta de higiene, de condições sanitárias, a falta de cuidados médicos, as desigualdades sociais, o tratamento privilegiado, os pequenos caprichos, as vinganças, os medos, as humilhações, o desespero, as vitórias, as derrotas, as estratégias… A forma como todos estes factores se interligam, naquele contexto em particular, com as diferentes ideologias de cada um dos intervenientes, a forma como se confrontam essas ideologias, as reacções e os acontecimentos que geram, tudo é compilado em muito mais do que um livro sobre guerra, é um livro sobre a condição humana e sobre os seus limites.


E os protagonistas deste livro, os nossos heróis foram quem venceu a Segunda Guerra Mundial mas, na realidade, quem ali encontramos e conhecemos é o Individuo, o Eu e esse nada ganhou.
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13.4.10

De chorar por mais

ensaiado por Bri |

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Linda!


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7.4.10

A morte de Ivan Ilitch

ensaiado por Bri |


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Estes dias, enquanto o carro percorria as estradas alentejanas e quando os Kilometros percorridos esgotavam as palavras, li, em voz alta para quem me quis ouvir, as 91 páginas da pequena edição do livro “A morte de Ivan Ilich” de Lev Tolstoi.

O livro é extremamente pequeno, e lê-se, como é costume dizer-se, num abrir e fechar de olhos. E no entanto, em tão poucas páginas, Tolstoi apresenta-nos o ser humano. O ser humano como ele o vê!

Aqui o tema central é a morte! A morte e o caminho até ela, e a forma como uns e outros a encaramos… A morte e a forma como a aceitamos ou não… A morte e a forma como a questionamos… A morte e nós e a morte e os outros…

E logo no primeiro capítulo descobrimos que Ivan Ilich morreu! Descobrimos isto na mesma altura em que o descobrem os seus “amigos”! E é logo aqui que nos deparamos com a estranha forma de ser do ser humano. Logo aqui começamos a ver o estranho egocentrismo, o seu estranho egoísmo e oportunismo que Tolstoi nos quer contar.

E é com este estranho ser humano com que nos vamos encontrando no decorrer das 91 páginas. É este estranho ser humano que está visível em quase [quase porque também há as raras excepções] todas as personagens do livro. Em quase todas elas encontramos um bocadinho desse egocentrismo, desse egoísmo, desse oportunismo além de outros adjectivos menos abonatórios da condição humana que podiam ser aqui acrescentados.

Nos restantes onze capítulos vamos conhecendo um pouco de Ivan Ilich e das pessoas que o rodeiam, um pouco das suas vidas, um pouco das suas motivações, um pouco dos seus refúgios, um pouco das suas transformações até começamos a acompanhar de perto a morte que nos contaram no primeiro capítulo.

São as 91 páginas mais pesadas que já li… Mas um peso que vale a pena carregar!

Cá ficam algumas gramas:

“Aquele exemplo de silogismo que tinha aprendido na lógica de Kizevetter: Caio é homem , os homens são mortais , portanto Caio é mortal, pareceu-lhe em toda a sua vida justo apenas em relação a Caio, mas de modo algum em relação a si próprio. Aquele era o homem Caio, o homem em geral, e isso era perfeitamente justo; mas ele não era Caio e não era o homem em geral, sempre tinha sido um ser completamente separado de todos os outros; ele era Vânia1 com o papá e a mamã, com Mitia e Volódia, com os brinquedos, o cocheiro, a ama, depois com Kátenka, com todas as alegrias, tristezas e encantos da infância, da adolescência, da juventude. Pois o que saberia Caio daquele cheiro das tiras de couro da bola que Vânia tanto gostava? Beijaria Caio assim a mão da sua mãe e ouviria assim o murmúrio da seda dos folhos do vestido dela? Ter-se-ia ele revoltado assim na escola por causa dos pastéis? Teria Caio amado assim? Caio seria capaz de presidir como ele a um julgamento?

E Caio era de facto mortal e era justo que morresse, mas para mim, Vânia, Ivan Ilitch, com todos os meus sentimentos e emoções, para mim isso é outra coisa. E não é possível que eu tenha que morrer. Isso seria demasiado horrível.”

1 Vânia: diminutivo de Ivan